Do blog do Paulo Santana:
Ah que saudade, César Passarinho, da tua voz ecoando pelo auditório,
os gaúchos e as prendas te ouvindo reverencialmente, o tom másculo e
delicado das tuas estrofes encantando as pessoas:
Das roupas velhas do pai
Queria que a mãe fizesse
Uma mala de garupa
Uma bombacha e me desse
* * *
Enquanto cantavas, César Passarinho, espalhava-se pelo auditório
uma unção gauchesca e nativista que parecia aos ouvintes que a
pátria primeira era o Rio Grande, o Brasil não passava de um
território depois anexado:
Queria boinas e alpargatas
E um cachorro companheiro
Pra me ajudar a botar as vacas
No meu petiço sogueiro
* * *
De onde é que o João Batista Machado e o Júlio Machado da
Silva Filho foram tirar tanta inspiração para compor este Guri?
É um hino comparável ao Canto Alegretense, tem de ser cantado
ajoelhado ou em posição de sentido.
Mas tu, ícone amado, César Passarinho, pássaro canoro, emprestaste
a esta canção célebre um cheiro de pampa e de tapera dificilmente
conseguido em outras composições célebres.
* * *
Hei de ter uma tabuada
E o meu livro “Queres ler”
Vou aprender a fazer contas
E algum bilhete escrever
Pra que a filha do seu Bento saiba
Que ela é meu bem querer
E se não for por escrito
Eu não me animo a dizer
* * *
Que saudade que dá do tempo em que eras vivo, César Passarinho,
embora as gravações te tenham eternizado.
Quando eu ouvia o Leopoldo Rassier, saudoso amigo, me lembrava
de ti, quando ouço o João de Almeida Neto, o José Cláudio Machado,
o Élton Saldanha, o Daniel Torres, o Wilson Paim, quando ouço todos
estes rouxinóis, lembro-me de ti, César Passarinho:
* * *
Quero gaita de oito baixos
Pra ver o ronco que sai
Botas feitio do Alegrete
E esporas do Iborocai
Lenço vermelho e guaiaca
Compradas lá no Uruguai
Pra que digam quando eu passe
Saiu igualzito ao pai
* * *
É muito bom, César Passarinho, que nosso maior ídolo cantante sejas
tu, negro, pois a raça negra forjou também este Rio Grande das peleias,
do chimarrão, do churrasco, da bombacha, do tirador, do pingo, da
cana, do carreteiro e das invernadas.
Tu tinhas e tens, César Passarinho, catinga de pampa e de coxilhas.
Mas, cá para nós, entre todas as pérolas que cantaste, este Guri foi
de fazer-nos enlouquecer e “ir dormir nos trilhos”.
Fonte: clicrbs.com.br/paulosantana
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